quinta-feira, 5 de novembro de 2009

A HÓSTIA PROFANADA

Vivi e Magma eram amigas inseparáveis. Fazia cinco anos desde aquele, inesquecível, encontro na bienal do livro. Vivi procurava um livro erótico, para satisfazer suas curiosidades mais íntimas e acabou encontrando... Magma perambulava por entre os estandes à procura de não sei quem. No entra-e-sai dos estandes as duas jovens se esbarram. Uma desculpa daqui, outra dali e estavam bebericando em um dos bares espalhados pelo pavilhão de exposições. Papo vai, papo vem, Vivi foi terminar a noite na casa de Magma. O dia amanheceu uma vez, duas vezes, três vezes e... Vivi e Magma curtiam a vida, juntas, há cinco anos. Vivi de religiosidade a toda prova, praticante, etc e tal. Magma religiosa por conveniência, tipo esses bares de posto de gasolina, vinte e quatro horas no ar. Todo domingo, às oito horas da matina, Vivi e Magma na quarta fila dos bancos reservados às beatas. Vivi fervorosa. Magma fervendo. Na terceira fila oposta, olhos cruzados, xale entreaberto e um enigmático jogo de dedos trêmulos. Vivi: candura. Magma: arapuca. Vivi viajando para visitar seus pais em outra cidade, no interior do estado. Magma viajando no interior das orações, à procura, sempre, de não sei quem. Eis que de repente (será?), olhos cruzados, xale entreaberto e um enigmático jogo de dedos trêmulos em sinal de qual cruz? Magma esbarra na terceira fila oposta. Uma desculpa daqui, outra dali e estavam almoçando. Magma e Olhos Cruzados curtiam a vida, juntas, há uma semana. Semana de orações e corações em festa. Olhos Cruzados era só fervor. Magma fervendo. Olhos Cruzados em todos os encontros comungando sua paixão. Magma acompanhando para não perder sua presa e guardando sua comunhão no bolso traseiro da calça de brim, justíssima. Vivi voltando do interior. Magma voltando, também de um certo interior, o seu encontro de fé. Vivi desconfiou de tanto fervor, mas uma semana longe de Magma a deixou com as lavas incandescentes e enquanto retirava suas roupas, iniciou uma briguinha para animar os ânimos. Magma estava esquisita e Vivi foi certeira, no alvo. O que houve? Arrumou outra, é? Que isso, minha santinha, no meu altar só dá você! Vivi sem as roupas ensaia uma pose provocante à Magma. Conta logo! Desembucha! Prefiro saber por você! Bem, Vivi, é que durante a semana, senti tanto a sua falta, fiquei tão sozinha, que fui rezar todos os dias, fiz até comunhão. Vivi não acredita e, agora, toda nua, de corpo aberto incita Magma. Vem, me prove! Magma imediatamente enfia a mão no bolso traseiro da calça de brim, justíssima, retira uma hóstia, mostra-a e estica o braço em direção a Vivi. Vivi grita de horror. Sua herege! Não vê que estou nua! Saia já daqui! Daqui prali e de lá pracá... Tudo voltou ao normal. Vivi fervorosa. Magma fervendo.

Sérgio Gerônimo, in OFICINA MAIS PROSA AINDA

2 comentários:

  1. Elas ficariam ótimas no gosto de hóstia mordida de O Menino...Cenario perfeito de background. Herético erótico pagão, avoé meu Inquisidor ao avesso! Amei as moças, meu Pan!:)

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  2. and follow me em mulheresdelirantes,blogspot.com
    dling

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