sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

pré-natal

da infância o sonho de natal
anunciando guloseimas policromia poliforme
de perguntas à noite meu sono teria medo
e eu?
só precisaria de um brinquedo

nacos de abacaxi nadariam ao vinho
nozes e passas enovelar-se-iam às avelãs
a natalina gravura em vermelho bordaria o linho
no pinheiro luzes e pequenas esferas-maçãs
à noite me esconderia um segredo
e eu?
só precisaria de um brinquedo

da adolescência repetido o ritual
a branca barba seria ceifada
da face e a lembrança do oculto
amigo seria virtual da igreja na torre o
sino seria o toque de classe à noite minha voz
mergulharia em levedo
e eu?
só precisaria de um brinquedo

rabanadas, doces e salgadinhos
trocados presentes, abraços e beijos
e quem perceberia os olhos tristinhos
que observariam nos copos as silhuetas dos beiços?
à noite chegaria sempre neste enredo
e eu?
só precisaria de um brinquedo
a mecânica liturgia permaneceria incólume
atentos poucos estariam ao seu significado
da estrela o brilho não ofuscaria o vagalume
que como o meu sorriso vagaria mumificado
à noite meus soluços despertariam mais cedo
e eu?
só precisaria de um brinquedo
eu!
só precisava de um brinquedo
eu só preciso
da tua mão!
Sérgio Gerônimo, in OUTRAS PROFANAS, OFICINA, 1998

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