sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

AS MÃOS DE EURÍDICE

agora eu sei
que as palmadas de mão aberta
estalando feito ovos na frigideira
eram afagos que não se apagam
- já vou mãe!
agora eu sei
que as conversas ao pé-do-ouvido
zunindo como ladainhas de Domingo
eram conselhos que não se compram
- deixa eu ir, mãe?
agora eu sei
que mesmo estando errada
acertava em cheio nas previsões
eram premonições que não se explicam
- mas todo mundo vai, mãe!
agora eu sei
que nas noites em que me aguardava
voltando beboalegre e errando a fechadura
era puro zelo que eu não entendia
- sua bênção, mãe.
ainda bem
que agora eu sei

Sérgio Gerônimo, in OUTRAS PROFANAS, Oficina, 1998

Um comentário:

  1. Obrigada por facilitar meu acesso a vc!
    Aquele site é complicado demais para minha mazelas...Abraços periféricos e interioranos!
    Belíssima Tua homenagem a Eurídice...
    Toda mãe(ou pai) zelosa(o) sabe que as sementes plantadas nem sempre serão vistas ou colhidas!

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