Outro dia me chegou um poema
de salto alto com adereços sutis
endereço de internauta
um quê de colegial
disse baixinho em um hálito
brisa de outono sua identidade...
sou poesia feminina
tentei afastar tal companhia atrevida
continuou pé-ante-pé no meu pé
me fez bailarino de linhas tingidas de grafite
às 3 da manhã não satisfeito
tocou fogo em meus pensamentos
me fez diurnos os sonhos
levitei meio torto entre os gêneros
que a mim se apresentavam
um poema que se dizia feminino
batia incessantemente com sua voz
em minhas idéias um quanto
radicais e colocou em semitons
minhas raízes vernaculares
ele, o poema – gênero masculino
(coisa que só os léxicos entendem)
sabendo-se ser feminina ou seria feminino
mas, a palavra feminino é masculina: o feminino
ou será masculino?
esquisito, não?
este poema de salto alto
roubou-me as horas madrugadas
fez-se companhia, como já disse, atrevida
e com dedos ágeis de tudo sei
preencheu o vazio até então
conhecido das minhas entrelinhas
escreveu que voltaria
no espelho da minha vontade
deixou embaçado ou embaçada
os embasamentos latinos da minha língua
não contente com a contenda
sem desfecho fiz-me estátua de rodin
e atônito indagador (cinderelamente)
com o saltinho alto de cristal entre as mãos
questionei à poesia
quando ele voltará, mesmo?
ela disse baixinho: quem sabe?
no próximo hálito
brisa de outono
quem sabe?
Sérgio Gerônimo, in CÓDIGO DE BARRAS, Oficina, Rio, 2007 e in CONVERSA PROIBIDA, Oficina, Rio, 2009
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